domingo, 27 de setembro de 2020

Visita à Helga Kamp

Dei um pulinho até Brusque/SC para visitar a professora, escritora e tradutora Helga Kamp. Foram duas horas ouvindo-a atentamente e a sensação foi a de uma viagem no tempo.

 Ela, nos seus 89 anos, com uma vitalidade de invejar, falou sobre assuntos dos mais diversos: suas traduções do inglês de livros sobre Lei da Atração e Neurociência e sobre obras que traduziu com o marido que hoje está firme e forte em seus 95 anos, sobre Meister Eckhart, sobre Steiner e a Waldorfschule, sobre viagens, plantas, chás e curas, sobre os anos na Alemanha, sobre como seus filhos e netos hoje desfrutam de todos os tesouros por terem aprendido idiomas desde cedo.

Escutando uma rádio suiça de música clássica, ela mostrou ainda sua biblioteca, seus chás feitos apenas com o que cultiva no jardim onde trabalha diariamente quatro horas, sobre o quanto a música nos ajuda a trabalhar emoções, sobre o quanto escreve todos os dias um pouco mais, sobre o quanto atraímos coisas conforme a vibração do coração, sobre o quanto gostaria de ainda viver por muitos anos para aprender mais e mais.

Antes que eu partisse ela preparou a mesa, pão de grãos assado no forno de barro, geléias feitas por ela, então rezou e disse em alemão: "Obrigado senhor por esta visita, por alguém que vem hoje de longe ao nosso lar com ouvidos para escutar o que temos a dizer e por achar que temos algo a ensinar".

 

Newton Schner Jr.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Os Alemães do Volga

Setembro é um mês especial para os princesinos de origem alemã: voltamo-nos no dia 7 em reverência à nossa Pátria, o Brasil, passando pelo aniversário da nossa cidade de Ponta Grossa, e no mesmo mês recordamos com carinho a chegada de uma leva imigratória sem a qual o destino princesino não teria sido o mesmo: Os alemães do Volga.

Uma história que começou quando a Alemanha nem se entendia por Alemanha, passando pela Rússia e finalmente encontrando uma morada segura no distante Brasilien.

Do carvalho semeado em solo princesino fez-se então lentamente, mas em progresso contínuo, uma nova Ponta Grossa. 

Seja no transporte da erva mate, nas casas de comércio, na história de inúmeras famílias, nas sociedades de teatro e música, na imprensa, nas cervejarias, na culinária e na arquitetura, nisso tudo o imigrante alemão imprimiu sua marca na cidade ao longo dos anos, fazendo do cidadão local também um pouco alemão.

Glaub mir: auch Du, Pontagrosser, bist teilweise ein bisschen deutsch!

Sabendo olhar com admiração para os anos de luta, sofrimento, tragédia dos imigrantes alemães do Volga que encontraram no trabalho, na cultura, na fé, na família e no sonho de fazer do Brasil um novo lar, fazer da Neue Heimat um lugar próspero, teremos sempre mil e uma razões para seguir adiante com a nossa caminhada.

Quando nos livros de história, nos fóruns de genealogia, nos cultos luteranos, nas cervejarias, no crescente interesse pela língua alemã, quando vemos a alegria da gente princesinha com as cores da bandeira da Alemanha junto ao verde e amarelo, nisso tudo está o carinho e o sonho inconsciente de um retorno um retorno à origem.

Que o legado dos alemães do Volga nunca seja esquecido! 

Möge dass das Erbe der Wolgadeutschen nie vergessen wird! 

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Texto: Newton Schner Jr. (Centro de Línguas Germania)

Arte: Caroline Stelle

Publicado originalmente no jornal Diário dos Campos, em comemoração ao aniversário da imigração dos alemães do Volga no Brasil.



quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Besuch bei Angelina Wittmann

Angelina lançou recentemente o seu livro "Fachwerk", uma obra-prima em defesa da preservação e do resgate de um estilo de construção ancestral germânico que segue vivo em nossos dias e inclusive com notável presença em Santa Catarina. Angelina é uma incansável defensora do Fachwerk - Enxaimel em português - há pelo menos três décadas, tendo inclusive estado na Alemanha por algumas vezes para aprimorar os seus conhecimentos.

Passamos uma tarde maravilhosa de 7 de setembro ao som dos pássaros e de música alemã, de frente para um jardim muito bem cuidado, acompanhados de boas conversas, boa cerveja e boa comida no lar dos Wittmann.

Falamos sobre o Brasil e Alemanha, sobre a cultura alemã no sul do Brasil, sobre o espírito alemão e sobre como sempre na história um pequeno grupo ajuda a manter a chama para que as coisas não se percam para sempre.

Tão logo que a pandemia cesse, esperamos poder fazer com que Angelina lance a sua obra também em solo paranaense.

Der deutsche Geist ist der Geist der Freiheit!

Texto: Newton Schner Jr.


quinta-feira, 25 de junho de 2020

Was ist deutsch zu sein ?

Se você tivesse a oportunidade de descrever uma pessoa com ascendência alemã, como faria? Quais são os atributos culturais e comportamentais do povo alemão? Existem parâmetros para classificar um povo ou as pessoas são mera resultante do Zeitgeist (espirito do tempo)? Será que em um mundo globalizado ainda existe espaço para indivíduos que insistem em dar continuidade ao elo ancestral?
Para essas e outras perguntas seriam necessárias discussões mais extensas, porém todas elas possuem uma temática indenitária em comum: O Ser alemão.

Hoje, devido aos frutos da globalização, o termo “alemão” é destinado às pessoas que têm a nacionalidade alemã, independentemente da origem étnica, cultural ou religiosa. Até o século XIX, o critério para tal classificação era o idioma e posição geográfica. Em 1871, com a fundação de um Estado alemão, o conceito de Ser alemão ficou destinado aos habitantes do território do novo país ou àqueles que lá têm origens. E a cada mergulho na história, ocorre um afunilamento classificatório até chegar ao critério étnico, o que implica no aparecimento do caráter, natureza e cultura alemã. Portanto Ser alemão não é somente uma característica territorial ou linguística, pois o vínculo está no povo e não exclusivamente na terra.
Ser alemão é mais do que possuir características físicas da etnia, afinal esta pode variar mediante as possibilidades da raça branca, logo o verdadeiro alemão é reconhecido pelos atributos da alma e do espirito.
Ser alemão não recorre somente à cor da pele ou a nacionalidade, e sim à própria cultura, herança, caráter, conduta e percepção em relação à vida.
Ser alemão consiste em se comportar, pensar e viver como um alemão, ou seja, estando em acordo com as próprias tradições, herança e modo de vida.Ser alemão é apreciar o nobre, o belo e o civilizado, sendo devoto dos valores de honra, lealdade, fidelidade e de dever para com o povo.
Ser alemão é demonstrar justiça, racionalidade, tolerância e busca pela verdade, vivendo tais preceitos em sua essência.
Ser alemão é ter orgulho de si e de sua própria raça, orgulho de sua cultura, de suas tradições, de sua natureza e de seu modo de vida, estabelecendo pilares que conseguem suportar até mesmo as tormentas geradas pelo multiculturalismo.
Ser alemão é ter a capacidade de adaptação e vínculo com a terra, manifestando nela todas as funções que compõe o seu espírito criativo.
Ser alemão é possuir fascínio pelo conhecimento, capacidade de raciocínio, de ordem e aprimoramento.
Existem outros atributos que compõe a natureza do Ser, entretanto uma coisa é certa: não adianta as pessoas optarem por usar traje típico, morar em casas em estilo Enxaimel, torcer pelo Bayern, tomar cerveja e apreciar as curvas do fusca. A plenitude do Ser deriva mais de uma questão ética comportamental, vinculada ao espirito e a raça, do que a soma de componentes da cultura popular. A essência da Germanidade está na alma do povo e não nos atributos físicos associados a este.
O pleno desserviço em relação ao povo está em acreditar que a Germanidade pode existir em sua parcialidade, sendo projetada na matéria e vivenciada em forma de fantasia, como nos períodos de Oktoberfest, Copa do Mundo ou quando convém. Aqueles que fantasiam não possuem respeito próprio e descartam como lixo todo o esforço de seus semelhantes e toda a memória de sua raiz ancestral. Eles também não asseguraram a continuidade da verdadeira tradição e cultura, desconstruindo os valores e leis que caracterizam o povo.
Sem sombra de dúvidas, a maioria das pessoas que possuem ascendência alemã não vivem em acordo com sua essência, e geração após geração a identidade alemã vai enfraquecendo. Da mesma forma é notório o trabalho de descaracterização gerenciado pelas Escolas, Mídia e sociedade, pois além de não ensinarem e transmitirem os valores e a história alemã de uma forma positiva, ainda forçam a internalização de outras culturas e comportamentos que estão em desacordo com o ser.
Perceber que o cenário não está favorável é fácil, porém o que nos resta? Se de alguma forma essa rápida reflexão mexeu com os seus sentimentos, pensamentos ou auxiliou em uma espécie de “despertar”, saiba que cada palavra foi pensada e colocada em função de você caro leitor. Se dentro de você ainda repousa o brilho de Ser alemão, onde o étnico e o cultural caminham de mãos dadas, então entenda que você não está sozinho e que apesar da distância e falta de comunicação, somos como lascas pertencentes ao mesmo carvalho. O sonho do verdadeiro alemão está em fortalecer o seu próprio povo e acredito que você também tenha ideias para isso, porém cabe a cada um de nós iniciarmos pela parte mais difícil: a autorreflexão!
Encerro com um trecho de D. Venner, para inspirar e fortificar aquilo que nos une: "Os homens só existem pelo que os distingue: clã, linhagem, história, cultura, tradição. Não há uma resposta universal às questões da existência e do comportamento. Cada povo dá as suas respostas, sem as quais os indivíduos, homens ou mulheres, privados de identidade e de modelos, são precipitados numa perturbação sem fundo. Como as plantas, os homens não podem prescindir de raízes. Mas as suas raízes não são apenas as da hereditariedade, às quais se pode ser infiel; são também as do espírito, isto é, da tradição que cabe a cada qual reencontrar."


Texto: William Ernst Ott

Postagem: Pedro Berejuk